terça-feira, 29 de setembro de 2009

Eu não sou diferente de ninguém!

Outro dia eu estava no ônibus sentado no local reservado a idosos, isso porque o veículo estava vazio, quando uma senhora de idade sentou-se do meu lado. Mais tarde eu pedi licensa a ela, me levantei e passei a roleta. Foi quando ela começou a praguejar pelo fato de eu estar sentado no local de idosos, mesmo não tendo nenhum por perto no momento. A maior parte do que ela disse eu não pude entender, mas ela começou a falar que o governador era viado e que no dia que um "homem" assumir o governador esse tipo de coisa não iria mais acontecer.
Em uma outra vez eu estava dentro de outro ônibus em um dia muito quente de verão, uma senhora de idade (por acaso outra senhora de idade) me pediu gentilmente para eu abrir a escotilha de ventilação no teto do veículo, eu tentei algumas vezes e não consegui, parecia emperrada. Foi quando um jovem mais forte que eu se aproximou e desemperrou a escotilha para mim. A senhora em um súbito momento de alegria bateu palmas e disse bem alto: "finalmente um homem de verdade!". Fiquei quieto e quando desci do veículo por acaso a mesma senhora saiu, e em uma rua deserta eu me aproximei dela e disse: "melhor a senhora tomar mais cuidado com o que diz, porque se fosse uma pessoa mais irritada eu poderia lhe fazer algum mal agora", ela pediu perdão pelo que disse e eu simplesmente disse que não a perdoaria, dei as costas e saí.

Pergunta rápida agora, quando alguém diz gay o que vem a sua cabeça de imediato? Algo bom ou ruim?
Não se sinta envergonhado se for algo ruim, o fato é que somos bombardeados quase que diariamente com definições pejorativas sobre os homossexuais. Mais que uma preferência sexual, ser gay no imaginário popular está diretamente ligado ao caráter - ou melhor dizendo ao mau-caráter - humano. Por isso tamanha dificuldade para nos entendermos como gays.
Tem duas frases que eu sempre usei para me identificar: "eu sou homem e gosto de homem" e "ser gay é apenas uma coisa dentre todas as outras que sou". A primeira frase mostra que tenho toda a "moralidade" do homem criado pelo romantismo, o protetor, o justo, o humanitário e o herói. E a segunda frase, ser gay só condiz com minha sexualidade e não com o meu comportamento ou julgamento. Isso não significa que eu renego minha identidade gay, mas sim que renego esse rotulo gay que não esta ligado com minha conduta.

Existem muitas campanhas para o fim da homofobia, mas enquanto existir essa "definição" de gay as pessoas entendem que vão precisar aceitar não uma pluralidade sexual, mas sim uma má-conduta como uma identidade social.
Daí surgem argumentos absurdos como : "eu vou ter que aceitar dois gays se beijando dentro de minha igreja? Eu vou passar nas ruas com meus filhos e ver dois gays fazendo pornografia explícita? Os gays irão desenterrar os mortos (incrível mas existe essa associação entre gays e necrófilos na cabeça de algumas pessoas) e fazer sexo com eles e eu vou ter que achar normal? Os gays vão ficar se drogando no meio da rua e eu preciso respeitar? O professor vai dar encima do meu filho de 11 anos na escola e eu vou ter que aceitar?
Esse tipo de argumento a favor da homofobia faz todo o sentido se partirmos do princípio que "o ser gay" é ser uma espécie de "mal-elemento" que só tem defeitos. Imagine uma pessoa que não conhece gays reais e que entende esse estereótipos como verdadeiros, o drama que seria se os gays puderem fazer o que bem entendem legitimados pelas leis. Seria o caos, o apocalipse social.
Agora a gente começa a entender a raiz do problema. Bem, se eu mesmo que sou "um homem que gosta de homem" não me vejo dentro desse universo de definição "gay", como uma pessoa que não tem nenhum conhecimento prático a respeito poderia entender? Será que não estamos remando para o lado errado?
Outro dia um amigo meu me disse: "quanto mais esse assunto ficar evidente maior vai ser a manifestação de grupos radicais". Ele tem razão, sempre que surge um porjeto de lei a favor dos homossexuais uma mobilização de políticos evangélicos derruba e considera isso uma vitória pelo moralismo - o que faz todo o sentido se você considerar a definição de gay atual.
Talvez, se mudarmos um pouco a ótica sobre o que é ser gay possamos diminuir o confronto e quem sabe encontrar um caminho não para o fim da homofobia, mas para o fim do preconceito. E qual seria a diferença? Acabando com o preconceito nos acabamos com a legitimação da homofobia, com isso diminuiríamos em muito as fileiras de opositores, restando apenas os verdadeiros homofóbicos patológicos.
Tem uma campanha do Governo Federal sobre a inclusão social, infelizmente ela se limita aos deficientes, mas eu acho que ela poderia falar em nome de todos os cidadãos brasileiros, deficientes ou não, negros ou não, gays ou não. Uma boa dica por onde começar.

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