Um garoto - vamos chama-lo de Mateus - criado dentro da Igreja Maranata desde que nasceu, aos 13 anos descobre que gosta de garotos. Em sua infância Mateus ouviu seu pai dizer coisas como: "Eu prefiro um filho morto à um filho gay", "se um filho meu virar gay eu também vou virar só para mostrar para envergonha-lo e só deixarei de ser gay quando ele também deixar" entre outros comentários. Sua mãe compartilha da ideia do pai e por muitas vezes ameaça se matar se descobrir que tem um filho gay. Um dia Mateus volta da escola chorando, se tranca no banheiro e com uma gillete corta - superficialmente, mas até hoje ele ainda tem as marcas - os punhos. Sua mãe bate na porta do banheiro e pergunta o que foi e ele engole o choro, esconde os cortes e inventa uma história de briga na escola só para disfarçar. Afinal o que ele poderia dizer?
Mateus reza todas as noites para deixar de ser gay e conhece um rapaz, eles começam a ficar e um dia o pai de Mateus liga para o rapaz e ouvindo sua voz "afeminada" vai atrás do filho irritado e desesperado perguntando se ele é gay. Nesse momento sua mãe já está entre desmaios e desespero e Mateus olhando para os pais diz que ele gosta de mulher e que não é gay. O pai de Mateus proíbe ele de sair de casa por um ano, apenas da escola pra casa e de casa pra igreja.
Mateus se concentra em estudar violino, o instrumento que toca em sua igreja e com 15 anos ele conhece um homem de 35 anos e os dois começam a namorar. Mateus sempre que saída da casa desse homem vomitava na rua - não por ser forçado pelo homem a fazer o que não desejava, mas por pensar em tudo o que seus pais já disseram sobre homossexualismo - O namoro segue as escondidas por um ano, mas as desconfianças de seus pais começam a ressurgir e eles começam a pressionar o garoto, que finge estar namorando com uma amiga dele apenas para ter uma desculpa para sair de casa e se encontrar com seu namorado. Na igreja o pastor chama Mateus para conversar - a pedido dos pais - e fala como o homossexualismo e terrível e errado. O garoto várias vezes diz para seu namorado que se a igreja dele descobrir ele vai ser expulso do grupo de músicos - cargo de status dentro da Maranata - e obrigado a sentar no banco - local de vergonha para membros menos valorosos - sem contar que seria ignorado por seus amigos da igreja que ele tanto diz gostar. Após algum tempo Mateus termina seu namoro e uma semana depois volta. Ele fica assim durante três meses até que o homem com quem ele namorava decide terminar de vez. Mateus o procura depois de um tempo e aos choros implora para voltar porque ele o ama de verdade, mas o homem diz para Mateus seguir sua vida, ter outras experiências e amadurecer no que ele realmente deseja para ele. Alguns meses depois Mateus liga para o homem e diz que está tudo muito bem em sua casa, seus pais estão muito legais e na igreja só recebe bênçãos, e que agora ele está namorando uma garota da igreja.
Maria é a filha menor de três irmãs. Quando ela era criança seus pais viviam brigando até vir o divórcio. Depois disso o pai sempre tratou Maria com indiferença e sua mãe de forma rispida. O único carinho e amor que a menina tinha vinha de sua avó, pois suas irmãs sempre a trataram com desprezo. Aos 16 anos a mãe de Maria descobriu que ela estava namorando com uma mulher de 45 anos. A família ficou em choque. Maria foi levada a terapia e proibida de se encontrar com a mulher. Aos 18 anos, Maria foi estudar em um internato só para garotas em outro Estado, a pedido dela mesma. Seus pais aceitaram a ideia e a mandaram para lá. Maria se sentia livre, mesmo estando em um internato, livre dos pais e podendo praticar sua sexualidade com outras garotas. Foi lá que Maria conheceu as drogas e começou a fumar e beber. Maria só foi aceita por sua família quando um primo dela assumiu ser homossexual, dai para frente a mãe dela começou a aceitar o namoro com outra menina de mesma idade. Recentemente Maria juntou todas as suas economias e foi morar sozinha no Rio de Janeiro. Foi encontrada por sua irmã meses depois vivendo na rua como uma mendiga e resgatada novamente para o seio da família. Na ultima conversa que eu tive com Maria ela me disse que pretendia voltar para o Rio.
Infelizmente essas são duas histórias reais, dentro de tantas outras que existem por ai.
O American Journal of Community Psychology divulgou em 2003 que os principais motivos de tentativa de suicídio entre os jovens LGBT são:
- Fraca auto-estima
- Abuso de substâncias alcoólicas
- Depressão
- Perda de amigos devido à orientação sexual
- Sentir-se isolado e só
- Tentativa de escapar de uma situação de vida insuportável
- Não conseguir imaginar um futuro
- Não se aceitar como homossexual
DM Fergusson em 1999 mostrou que homossexuais e bissexuais possuem mais chance de apresentar doenças mentais, como demonstra a tabela:
- Ideias suicidas 5.2 vezes mais risco
- Depressão profunda 4 vezes mais risco
- Ansiedade 2.4 vezes mais risco
- Problemas de conduta 3.8 vezes mais risco
- Dependência de nicotina 5 vezes mais risco
- Dependência e abuso de substâncias 1.9 vezes mais risco
Aqui no Brasil, em 2008, foi realizada uma pesquisa pelas fundações Perseu Abramo e Rosa Luxemburg na tentativa de identificar o grau de discriminação dos brasileiros.A pesquisa comprova que apesar de uma roupagem de liberdade e tolerância o Brasil é o primeiro país no rank internacional em crimes homofóbicos, segundo os dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
De 1980 à 2008 foram documentadas 2.998 assassinatos de homossexuais. Pernambuco é o Estado mais violento e a Região Nordestina a mais violenta. Um gay nordestino corre 84% mais risco de ser assassinado que nas Regiões Sul e Suldeste.
Esse turbilhão de informações levantadas nesse post são algumas das coisas que uma criança que se descobre homossexual enfrenta diariamente. Percebemos que o grande problema aqui não está na sexualidade em si, mas na falta de parâmetros para o jovem se descobrir, bases familiares que ficam a desejar - para quem não é heterossexual - e principalmente a sensação de solidão afetiva causada pelo distanciamento que o jovem tem dos pais para uma conversa franca. Mesmo aqueles jovens que contam para seus pais sobre sua sexualidade acabam sendo incompreendidos, discriminados, isolados ou tratados de "forma diferenciada" - muitas vezes inferiorizado ou visto como portador de doença mental.
As relações entre jovens gays se torna superficial e muitas vezes promiscua por falta de orientação, perspectiva de futuro, auto-rejeição, imaturidade sexual, adotar uma vida dupla, entre outras.
O governo brasileiro ainda está muito longe de atender as necessidades desses jovens "perdidos" ou mesmo seus pais. Para piorar ainda mais a situação, políticos ligados a igrejas vetam as tentativas de se criar leis - não a favor - mas que preservem os homossexuais e seus direitos civis. Com o discurso hipócrita evangélico de proteger a família, elas colaboram com a expulsão do jovem do convívio familiar, auto-rejeição, inferiorização, culpa, na depressão, aumento do uso de drogas, fim de pespectivas de gerar uma família e pior de tudo no aumento dos índices de suicídio.
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