sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Verdades Tristes

Imagine a seguinte história.
Um garoto - vamos chama-lo de Mateus - criado dentro da Igreja Maranata desde que nasceu, aos 13 anos descobre que gosta de garotos. Em sua infância Mateus ouviu seu pai dizer coisas como: "Eu prefiro um filho morto à um filho gay", "se um filho meu virar gay eu também vou virar só para mostrar para envergonha-lo e só deixarei de ser gay quando ele também deixar" entre outros comentários. Sua mãe compartilha da ideia do pai e por muitas vezes ameaça se matar se descobrir que tem um filho gay. Um dia Mateus volta da escola chorando, se tranca no banheiro e com uma gillete corta - superficialmente, mas até hoje ele ainda tem as marcas - os punhos. Sua mãe bate na porta do banheiro e pergunta o que foi e ele engole o choro, esconde os cortes e inventa uma história de briga na escola só para disfarçar. Afinal o que ele poderia dizer?
Mateus reza todas as noites para deixar de ser gay e conhece um rapaz, eles começam a ficar e um dia o pai de Mateus liga para o rapaz e ouvindo sua voz "afeminada" vai atrás do filho irritado e desesperado perguntando se ele é gay. Nesse momento sua mãe já está entre desmaios e desespero e Mateus olhando para os pais diz que ele gosta de mulher e que não é gay. O pai de Mateus proíbe ele de sair de casa por um ano, apenas da escola pra casa e de casa pra igreja.
Mateus se concentra em estudar violino, o instrumento que toca em sua igreja e com 15 anos ele conhece um homem de 35 anos e os dois começam a namorar. Mateus sempre que saída da casa desse homem vomitava na rua - não por ser forçado pelo homem a fazer o que não desejava, mas por pensar em tudo o que seus pais já disseram sobre homossexualismo - O namoro segue as escondidas por um ano, mas as desconfianças de seus pais começam a ressurgir e eles começam a pressionar o garoto, que finge estar namorando com uma amiga dele apenas para ter uma desculpa para sair de casa e se encontrar com seu namorado. Na igreja o pastor chama Mateus para conversar - a pedido dos pais - e fala como o homossexualismo e terrível e errado. O garoto várias vezes diz para seu namorado que se a igreja dele descobrir ele vai ser expulso do grupo de músicos - cargo de status dentro da Maranata - e obrigado a sentar no banco - local de vergonha para membros menos valorosos - sem contar que seria ignorado por seus amigos da igreja que ele tanto diz gostar. Após algum tempo Mateus termina seu namoro e uma semana depois volta. Ele fica assim durante três meses até que o homem com quem ele namorava decide terminar de vez. Mateus o procura depois de um tempo e aos choros implora para voltar porque ele o ama de verdade, mas o homem diz para Mateus seguir sua vida, ter outras experiências e amadurecer no que ele realmente deseja para ele. Alguns meses depois Mateus liga para o homem e diz que está tudo muito bem em sua casa, seus pais estão muito legais e na igreja só recebe bênçãos, e que agora ele está namorando uma garota da igreja.
Maria é a filha menor de três irmãs. Quando ela era criança seus pais viviam brigando até vir o divórcio. Depois disso o pai sempre tratou Maria com indiferença e sua mãe de forma rispida. O único carinho e amor que a menina tinha vinha de sua avó, pois suas irmãs sempre a trataram com desprezo. Aos 16 anos a mãe de Maria descobriu que ela estava namorando com uma mulher de 45 anos. A família ficou em choque. Maria foi levada a terapia e proibida de se encontrar com a mulher. Aos 18 anos, Maria foi estudar em um internato só para garotas em outro Estado, a pedido dela mesma. Seus pais aceitaram a ideia e a mandaram para lá. Maria se sentia livre, mesmo estando em um internato, livre dos pais e podendo praticar sua sexualidade com outras garotas. Foi lá que Maria conheceu as drogas e começou a fumar e beber. Maria só foi aceita por sua família quando um primo dela assumiu ser homossexual, dai para frente a mãe dela começou a aceitar o namoro com outra menina de mesma idade. Recentemente Maria juntou todas as suas economias e foi morar sozinha no Rio de Janeiro. Foi encontrada por sua irmã meses depois vivendo na rua como uma mendiga e resgatada novamente para o seio da família. Na ultima conversa que eu tive com Maria ela me disse que pretendia voltar para o Rio.
Infelizmente essas são duas histórias reais, dentro de tantas outras que existem por ai.

O American Journal of Community Psychology divulgou em 2003 que os principais motivos de tentativa de suicídio entre os jovens LGBT são:
  • Fraca auto-estima
  • Abuso de substâncias alcoólicas
  • Depressão
  • Perda de amigos devido à orientação sexual
Em 1999 a pesquisa de K. Hegna constatou que os principais motivos dos suicídios entre homossexuais e bissexuais são:
  • Sentir-se isolado e só
  • Tentativa de escapar de uma situação de vida insuportável
  • Não conseguir imaginar um futuro
  • Não se aceitar como homossexual
Eles também constataram que a tentativa de suicídios entre gays/lesbicas são 7 vezes maior do que entre os heterossexuais.

DM Fergusson em 1999 mostrou que homossexuais e bissexuais possuem mais chance de apresentar doenças mentais, como demonstra a tabela:
  • Ideias suicidas 5.2 vezes mais risco
  • Depressão profunda 4 vezes mais risco
  • Ansiedade 2.4 vezes mais risco
  • Problemas de conduta 3.8 vezes mais risco
  • Dependência de nicotina 5 vezes mais risco
  • Dependência e abuso de substâncias 1.9 vezes mais risco
Uma outra pesquisa feita na Universidade de Massachusetts em 1999 levantou um dado importante, que os jovens LGBT apresenta taxas mais altas de uso de drogas que os jovens heterossexuais. A maconha 1.4 vezes mais usada pelo jovem LGBT que entre os heteros, a cocaína 3.2 mais vezes, anfetaminas 4.3 mais vezes e a drogas injetáveis 9 mais vezes.

Aqui no Brasil, em 2008, foi realizada uma pesquisa pelas fundações Perseu Abramo e Rosa Luxemburg na tentativa de identificar o grau de discriminação dos brasileiros.A pesquisa comprova que apesar de uma roupagem de liberdade e tolerância o Brasil é o primeiro país no rank internacional em crimes homofóbicos, segundo os dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
De 1980 à 2008 foram documentadas 2.998 assassinatos de homossexuais. Pernambuco é o Estado mais violento e a Região Nordestina a mais violenta. Um gay nordestino corre 84% mais risco de ser assassinado que nas Regiões Sul e Suldeste.

Esse turbilhão de informações levantadas nesse post são algumas das coisas que uma criança que se descobre homossexual enfrenta diariamente. Percebemos que o grande problema aqui não está na sexualidade em si, mas na falta de parâmetros para o jovem se descobrir, bases familiares que ficam a desejar - para quem não é heterossexual - e principalmente a sensação de solidão afetiva causada pelo distanciamento que o jovem tem dos pais para uma conversa franca. Mesmo aqueles jovens que contam para seus pais sobre sua sexualidade acabam sendo incompreendidos, discriminados, isolados ou tratados de "forma diferenciada" - muitas vezes inferiorizado ou visto como portador de doença mental.
As relações entre jovens gays se torna superficial e muitas vezes promiscua por falta de orientação, perspectiva de futuro, auto-rejeição, imaturidade sexual, adotar uma vida dupla, entre outras.
O governo brasileiro ainda está muito longe de atender as necessidades desses jovens "perdidos" ou mesmo seus pais. Para piorar ainda mais a situação, políticos ligados a igrejas vetam as tentativas de se criar leis - não a favor - mas que preservem os homossexuais e seus direitos civis. Com o discurso hipócrita evangélico de proteger a família, elas colaboram com a expulsão do jovem do convívio familiar, auto-rejeição, inferiorização, culpa, na depressão, aumento do uso de drogas, fim de pespectivas de gerar uma família e pior de tudo no aumento dos índices de suicídio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário