domingo, 2 de maio de 2010

Cinema, Televisão e Público Gay

O primeiro registro do tema gay no cinema americano foi o "Night after night" - 1932. Onde uma mulher puritana e infeliz, após uma noite de bebedeiras, e acordar ao lado de outra mulher, descobre um mundo novo, alegre e cheio de aventuras. As igrejas americanas conseguiram impor o Código Hayes, impedindo que a simpatia do público, nos cinemas, fosse dirigida para o lado do crime, do erro, do mal e do pecado, aí incluindo a homossexualidade. As instituições do casamento e do lar sendo sagradas, não se aceitavam relações casuais ou promíscuas como fatos correntes. Sexo ilícito ou adultério não se justificavam. Danças, alusões, gestos, brincadeiras e palavras obscenas estavam banidas, assim como a nudez de fato ou em silhueta. Temendo a censura e o fracasso, roteiristas, produtores, diretores e atores homossexuais adotaram a heterossexualidade como seu padrão estético e moral, o homossexual passou a ser abordado como algo doentio. Diante do mal-estar causado pela homossexualidade, não é de espantar que, entre 1961 e 1976, em 32 filmes que abordaram o tema, 13 personagens homossexuais matavam-se, 18 eram mortos por seus amantes e um era castrado.
No gueto homossexual, a Aids paradoxalmente facilitou a explosão das sexualidades reprimidas, fazendo florescer um vigoroso cinema gay e lésbico: vivemos o boom da produção com temática homossexual, de formato e qualidade muito variada (de melodramas pornográficos a exercícios de sadomasoquismo, de comédias baratas a dramas de qualidade), que encontra vazão num mercado formado por quase cem festivais de cinema gay em todo o mundo.
As "paradas do orgulho gays" deflagraram um novo público consumidor, crescente e até então sem atendimento na sociedade de consumo, o mercado homossexual passa a ser estudado e respeitado pelo poder do "pink money". As televisões por assinatura, já apresentam uma nova visão dos homossexuais em suas séries, conquistando e compreendendo cada vez mais seu público consumidor.
Já aqui no Brasil, percebemos um esforço crescente das televisões abertas em abocanhar esse filão de mercado.
O dilema de nossas emissoras é atender esse novo público sem perder a audiência de outro público crescente, os evangélicos.
Até agora os gays são introjetados na programação em doses homeopática, os "gays-clowns" já aparecem nos programas de humor nacionais a muitos anos e já estão totalmente aceitos pelo grande público, nas novelas já é diferente, o gay ainda segue o Código Hayes americano.
Na dramaturgia nacional observamos três tipos claros de estereótipos, o "gay-clown", o "travesti assexuado" (apresentado pela primeira vez nas chanchadas da Atlântida dos 40 e 50) e o gay-trágico (que morre pouco depois de achar o amor de sua vida).
Nossas emissoras parecem disputar o novo "filão" de forma discreta, usando da tentativa e erro, mas sempre recorrendo aos três "tipos" já sabidamente aceitos.
A parte disso, a MTV sai na frente com uma proposta diferente, utilizando clipes e "divas" gays para atender seu público (esmagador). Discretamente a emissora já conseguiu alguns sucessos como os especiais "beija-sapo gay" e "a fila anda gay". Alem de introduzir o "repórter Didi" como um novo perfil de gay, usando barba e um estilo "natural" de se comportar. Aparentemente a MTV teve sucesso em atender ao público jovem-gay sem se comprometer.
Tentando puxar um pouco da atenção gay, o Domingo Legal apresenta semanalmente clipes e concursos com as duas maiores divas gays da atualidade, Beyonce e Lady Gaga.
O medo do boicote de telespectadores "homofóbicos" engessam novas tentativas de buscar outros modelos e representações de temas e interesses gays.
O BBB10 é uma demonstração clara disso, vamos colocar um homofóbico e dois gays na casa e veremos qual terá aceitação do público. Não apenas aceitação, o homofóbico venceu o programa com sua ideologia neo-nazista, comprovando o quanto o povo brasileiro esta engessado na discriminação. Ao mesmo tempo a experiência mostra as ávidas tentativas das emissoras de "quebrar tabus" e agregar o público gay a massa de espectadores.

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